Sugestões de Leitura: Rubens Borba de MORAES

sábado, 21 de julho de 2012

 TESTEMUNHA OCULAR (RECORDAÇÕES)
   Estas são as memórias, até agora inéditas, de Rubens Borba de Moraes, que nasceu em Araraquara em 23 de janeiro de 1899, viveu em Paris, Genebra, Nova York, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, e morreu em Bragança Paulista, em 2 de setembro de 1986. 
Rubens Borba de Moraes, o maior bibliófilo brasileiro, senta-se ao nosso lado e começa a desfiar sua história de vida, a contar os causos da família de longa linhagem, a falar dos momentos que marcaram seu crescimento e amadurecimento intelectual. Dos
sertões de Araraquara, na época de expansão da agricultura cafeeira, aos internatos de Paris e Genebra, da educação recebida de mestres ilustres, da pauliceia da Semana de Arte Moderna, da Brasília, penúltima de um percurso de tantas estações, chega-nos a fluência e o informalismo de sua conversa escrita, quase um blogue por antecipação, em que registra aquilo que viu, viveu e testemunhou. Com destaque para seus anos de menino em Araraquara, os estudos em Genebra, sua participação na Semana de Arte Moderna e sua bibliofilia.
   Além dos paineis em que descreve, como bom observador, o que acontecia à sua volta, Rubens Borba nos permite conhecer aspectos importantes de seus anos de aprendizagem, que, de certa maneira, se assemelham aos de outros brasileirinhos que, meninos ainda, iam estudar na Europa, e que, no regresso, eram quase estranhos numa terra estranha. Ao voltar de Genebra, em setembro de 1919, envergando terno de casemira, chapéu de feltro, bengala e luvas de camurça, precisando de aulas de português, ciente de toda a literatura que se publicava na Europa, mas praticamente ignorante da que aqui se fazia, portando um diploma de ‘licenciado em letras’, cujo valor prático era zero no Brasil, nosso memorialista toma a decisão de mergulhar de corpo inteiro na cultura de seu país natal. E o faz por meio de uma viagem sem fim através das páginas dos livros sobre o Brasil e dos livros escritos por brasileiros.
   De fato, as bibliografias que compilou, tanto a Bibliographia brasiliana, cuja edição em português foi recentemente publicada pela Editora da Universidade de São Paulo, quanto a Bibliografia brasileira do período colonial e o Manual bibliográfico de estudos brasileiros, que organizou com William Berrien, são muito mais o resultado desse estudo incansável de nosso universo intelectual do que o mero catálogo das preciosidades colecionadas por um portador daquela mansa loucura (gentle madness) de que nos fala o grande ensaísta da bibliofilia Nicholas Basbanes.
   Seu desejo era apresentar uma visão completa das atividades que desempenhou, tanto no Brasil quanto na Organização das Nações Unidas. No entanto, por motivos desconhecidos, ele não redigiu as partes onde falaria de sua experiência na Biblioteca Municipal de São Paulo (atual Biblioteca Mário de Andrade), na Biblioteca Nacional, no Centro de Informações da ONU, em Paris, e na direção da Biblioteca da ONU, em Nova York. Em várias entrevistas e depoimentos, porém, ele deixou muitas informações relevantes para o conhecimento desse seu trabalho. Bibliófilo, bibliotecário, bibliógrafo, editor, tradutor, educador, em cada uma destas áreas fez valer a sua índole de fazedor. Como deixou calcado em uma de suas frases, que colocamos como epígrafe deste livro: “O importante é fazer, não é ser. Fazer coisas e não ser alguém.”

FONTE:  
Rubens Borba de Moraes
Organização e notas de Antonio Agenor Briquet de Lemos
Brasília, DF: Briquet de Lemos / Livros, 2011
308 páginas

ISBN 978-8585637439

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