O que você espera encontrar no Arquivo Público Municipal de sua cidade? Em Teresina, nas salas onde estão conservados alguns documentos que ajudam a contar a memória singular de seu povo e seu trabalho, foram encontradas caixas de papelão sendo atacadas por traças, papéis desgastados por infiltrações, prateleiras e fichários com ferrugem, teias de aranha, chinelos, extintores de incêndio no chão, uma bicicleta, fezes e forte cheiro de urina de roedores, um saco de cimento aberto e até mesmo um botijão de gás.
Esse é o quadro do Arquivo Público de Teresina, localizado próximo ao cruzamento da rua Anísio de Abreu com Avenida
Miguel Rosa. Entre tantos documentos que se encontram lá, também há espaço para as fichas de óbito e saída de todos
os cemitérios da capital, assim como para plantas e projetos de obras históricas. O problema é que todos estão ameaçados
por estarem em uma estrutura inadequada, que não conta com controle de umidade – ocasionado, também, pelo simples fato da casa convertida em arquivo não possuir forro. Pelas telhas de cerâmica, passa o calor. Pelas frestas do teto, a umidade e o efeito de chuvas.
Discordando de uma situação de perigo aos documentos, Francisco Dimas, o diretor responsável pelo Arquivo Público
Municipal, que possui oito funcionários, afirmou que no passado a situação foi bem pior.“Mas você perceba que na situação em que eu cheguei aqui, não tinha sequer um reservatório de água. Hoje a gente já está estruturando, melhorando e tomando as providências”, afirmou ele. Só que ao pedirmos para que ele nos acompanhasse em uma visita pelas salas do Arquivo, houve relutância.
“Mas você quer ir para que? Eu já estou dizendo que está tudo organizado, com os papeis dentro das caixas?”, disse ele,
que só após muita insistência, deixou que a equipe visitasse o local - que teoricamente seria aberto para pesquisas da população. Contudo, com nova proibição: O nosso repórter fotográfico foi barrado, sob a justificativa que para tirar as
fotos, seria necessária uma autorização superior a da organização do Arquivo Público Municipal.
São três salas reservadas ao arquivo. Na primeira, a menos desorganizada, estava uma bicicleta paralela às prateleiras de
documentação histórica. Ao fundo, um armário enferrujado e vazio.
Em todo o espaço – e nas outras duas salas visitadas, muitas teias de aranha.
Após retornar de sua sala e nos comunicar sob uma negativa quanto a possibilidade de fotografar o local, a direção do Arquivo Público Municipal também foi relutante em deixar que a equipe entrasse em outras salas, onde a repetição do descaso se fazia presente. Na segunda sala, extintores de incêndio jogados em um canto mal iluminado e de acesso complicado podiam ser notados.
Na terceira sala, por fim, os problemas foram notados pela reportagem e explicados por Francisco Dimas, como a presença de um saco de cimento aberto (“estávamos em reforma”) e de um botijão de gás (“mas ele está vazio, ok? Só está aqui porque roubaram um da dispensa”).
Atualmente, como afirma o próprio Francisco Dimas, o Arquivo Público Municipal não recebe novos arquivos. “Foi uma determinação da SEMA (Secretaria Municipal de Administração e Recursos Humanos). Nós apenas conservamos os documentos antigos”. Nenhum dos funcionários do Arquivo Municipal de Teresina soube explicar, ainda, os detalhes
sobre quais documentos e de quais datas estão presentes no espaço.
Não existe nenhum tipo de material em revista ou informativo sobre o acervo do Arquivo Público Municipal. Embora a direção do órgão afirme que ele receba até 10 pessoas por dia, não há livro de controle sobre quem e quando são feitas visitas ao
espaço.
O pesquisador gaúcho em história, Marlon Voloski, está em Teresina para realizar um levantamento de informações para o Instituto Historiográfico São José do Norte através do Arquivo Público do Piauí, afirmou que documentos
como registro de óbitos podem contar muito. “Um documento como esse pode ter um poder estatístico muito forte. Falar sobre como essa pessoa viveu, quais foram as condições do enterro, qual a causa da morte”, afirma.
Nada do número incerto de documentos do Arquivo Público Municipal existe de forma digitalizada. Não existe nem um computador no prédio destinado a guardar parte da memória de Teresina, assim como a presença do Arquivo Público Municipal de Teresina é quase inexistente na internet.
A referência mais aprofundada, sem coincidências, é a de um artigo científico de alunos do curso de Biblioteconomia da Universidade Estadual do Piauí, apresentado no XXXIII Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Gestão, e
Ciência da Informação, na Paraíba, que aconteceu entre 19 e 24 de julho desse ano. Intitulado “Teresina a Beira
do Esquecimento: o descaso com a identidade de um povo”, o artigo é assinado pelos alunos Marcelo Andrade, Rafael Freitas, Lindemberg Gomes, Madson Viana e Ronaldo Nascimento, que afirmam nele a seguinte sentença: “Constatamos o descaso com um bem de alta relevância e utilidade pública, a informação presente nos citados documentos não estar
alcançando sua verdadeira função: a de manter a memória da sociedade viva no presente estado de civilização”. A pergunta sobre o Arquivo Público Municipal é, então, o que fazer no presente para conservar um passado, que assim como os bens da riqueza imaterial, pode ajudar a compreender o futuro?
Esse é o quadro do Arquivo Público de Teresina, localizado próximo ao cruzamento da rua Anísio de Abreu com Avenida
Miguel Rosa. Entre tantos documentos que se encontram lá, também há espaço para as fichas de óbito e saída de todos
os cemitérios da capital, assim como para plantas e projetos de obras históricas. O problema é que todos estão ameaçados
por estarem em uma estrutura inadequada, que não conta com controle de umidade – ocasionado, também, pelo simples fato da casa convertida em arquivo não possuir forro. Pelas telhas de cerâmica, passa o calor. Pelas frestas do teto, a umidade e o efeito de chuvas.
Discordando de uma situação de perigo aos documentos, Francisco Dimas, o diretor responsável pelo Arquivo Público
Municipal, que possui oito funcionários, afirmou que no passado a situação foi bem pior.“Mas você perceba que na situação em que eu cheguei aqui, não tinha sequer um reservatório de água. Hoje a gente já está estruturando, melhorando e tomando as providências”, afirmou ele. Só que ao pedirmos para que ele nos acompanhasse em uma visita pelas salas do Arquivo, houve relutância.
“Mas você quer ir para que? Eu já estou dizendo que está tudo organizado, com os papeis dentro das caixas?”, disse ele,
que só após muita insistência, deixou que a equipe visitasse o local - que teoricamente seria aberto para pesquisas da população. Contudo, com nova proibição: O nosso repórter fotográfico foi barrado, sob a justificativa que para tirar as
fotos, seria necessária uma autorização superior a da organização do Arquivo Público Municipal.
São três salas reservadas ao arquivo. Na primeira, a menos desorganizada, estava uma bicicleta paralela às prateleiras de
documentação histórica. Ao fundo, um armário enferrujado e vazio.
Em todo o espaço – e nas outras duas salas visitadas, muitas teias de aranha.
Após retornar de sua sala e nos comunicar sob uma negativa quanto a possibilidade de fotografar o local, a direção do Arquivo Público Municipal também foi relutante em deixar que a equipe entrasse em outras salas, onde a repetição do descaso se fazia presente. Na segunda sala, extintores de incêndio jogados em um canto mal iluminado e de acesso complicado podiam ser notados.
Na terceira sala, por fim, os problemas foram notados pela reportagem e explicados por Francisco Dimas, como a presença de um saco de cimento aberto (“estávamos em reforma”) e de um botijão de gás (“mas ele está vazio, ok? Só está aqui porque roubaram um da dispensa”).
Atualmente, como afirma o próprio Francisco Dimas, o Arquivo Público Municipal não recebe novos arquivos. “Foi uma determinação da SEMA (Secretaria Municipal de Administração e Recursos Humanos). Nós apenas conservamos os documentos antigos”. Nenhum dos funcionários do Arquivo Municipal de Teresina soube explicar, ainda, os detalhes
sobre quais documentos e de quais datas estão presentes no espaço.
Não existe nenhum tipo de material em revista ou informativo sobre o acervo do Arquivo Público Municipal. Embora a direção do órgão afirme que ele receba até 10 pessoas por dia, não há livro de controle sobre quem e quando são feitas visitas ao
espaço.
O pesquisador gaúcho em história, Marlon Voloski, está em Teresina para realizar um levantamento de informações para o Instituto Historiográfico São José do Norte através do Arquivo Público do Piauí, afirmou que documentos
como registro de óbitos podem contar muito. “Um documento como esse pode ter um poder estatístico muito forte. Falar sobre como essa pessoa viveu, quais foram as condições do enterro, qual a causa da morte”, afirma.
Nada do número incerto de documentos do Arquivo Público Municipal existe de forma digitalizada. Não existe nem um computador no prédio destinado a guardar parte da memória de Teresina, assim como a presença do Arquivo Público Municipal de Teresina é quase inexistente na internet.
A referência mais aprofundada, sem coincidências, é a de um artigo científico de alunos do curso de Biblioteconomia da Universidade Estadual do Piauí, apresentado no XXXIII Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Gestão, e
Ciência da Informação, na Paraíba, que aconteceu entre 19 e 24 de julho desse ano. Intitulado “Teresina a Beira
do Esquecimento: o descaso com a identidade de um povo”, o artigo é assinado pelos alunos Marcelo Andrade, Rafael Freitas, Lindemberg Gomes, Madson Viana e Ronaldo Nascimento, que afirmam nele a seguinte sentença: “Constatamos o descaso com um bem de alta relevância e utilidade pública, a informação presente nos citados documentos não estar
alcançando sua verdadeira função: a de manter a memória da sociedade viva no presente estado de civilização”. A pergunta sobre o Arquivo Público Municipal é, então, o que fazer no presente para conservar um passado, que assim como os bens da riqueza imaterial, pode ajudar a compreender o futuro?
Portal O dia.
1 comentários:
Parabéns aos alunos do 6º bloco de biblioteconomia da UESPI pelo exprecivo e relevante trabalho que serviu de citação como embasamento teórico ao artigo publicado no jornal O DIA. Sinto-me feliz em ter participado disso.
Marcelo Andrade
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