"As razões fundamentais pelas quais o carro elétrico não tenha atingido popularidade que merece são (1) O fracasso dos fabricantes em educar de maneira adequada o público em geral a respeito da maravilhosa utilidade do carro elétrico; (2) O fracasso das [empresas de energia] em tornar mais fácil para manter e operar o carro elétrico por meio de uma distribuição adequada de postos de recarga e abastecimento.
A velocidade, alcance e utilidade limitados dos primeiros carros elétricos produziram impressões populares que ainda permanecem. " Essa citação dificilmente surpreenderia qualquer pessoa que entende de veículos elétricos. Mas pode ser surpreendente saber que no ano em que foi escrita milhares de carros elétricos foram produzidos e esse ano foi há quase um século atrás. Isso apareceu numa edição de 1916 da revista Electrical World (Mundo Elétrico), que encontrei no Google Books, nosso repositório de busca de milhões de livros. Pode parecer estranho voltar o olhar cem anos atrás num assunto que é tão contemporâneo, embora eu ainda ache que o passado tenha lições valiosas para o futuro.
Nesse caso, eu tive sorte - veículos elétricos foram estudados e têm uma literatura extensa no início do século XX, e existem vários livros sobre o assunto para se escolher. Como os livros publicados antes de 1923 estão em domínio público, eu posso vê-los facilmente. Mas a grande maioria dos livros produzidos não é acessível a ninguém, exceto os pesquisadores mais tenazes nas grandes bibliotecas acadêmicas. Os livros escritos depois de 1923 desaparecem rapidamente em um buraco negro literário. Com raras
exceções, é possível comprá-los apenas por um pequeno período de anos enquanto estão sendo impressos. Depois disso, eles são encontrados somente em um número ínfimo de bibliotecas e sebos. Com o passar dos anos, os contratos se perdem ou são esquecidos, autores e editoras desaparecem, os detentores dos direitos se tornam impossíveis de rastrear.
Inevitavelmente, as poucas cópias remanescentes de livros são deixadas à lenta deterioração ou perdem-se em queimadas, enchentes e outros desastres. Enquanto eu estava em Stanford em 1998, enchentes prejudicaram ou destruíram dezenas de milhares de livros. Infelizmente, tais eventos não são incomuns - uma enchente similar aconteceu em Stanford há 20 anos atrás. Você poderia ler sobre isso no
Relatório da Inundação da Biblioteca Stanford-Lockheed Meyer (The Stanford-Lockheed Meyer Library Flood Report), publicado em 1980, mas esse livro não estámais disponível.
Em razão dos livros serem uma parte tão importante do conhecimento coletivo do mundo e do patrimônio cultural, Larry Page, co-fundador do Google, propôs pela primeira vez uma década atrás que todos os livros fossem digitalizados, quando ainda éramos principiantes. Na época o projeto foi visto como muito ambicioso e desafiador, que foi impossível atrair gente para trabalhar nele. Mas cinco anos depois, em 2004, o Google Books (então chamado de Google Print) nasceu,permitindo aos usuários pesquisar centenas de milhares de livros. Hoje, eles contam com mais de 10 milhões de títulos.
No ano seguinte, fomos processados pela Associação de Autores e a Associação de Editores Americanos por causa do projeto. Embora tenhamos tido divergências, temos um objetivo comum - liberar o conhecimento preso a um enorme número de livros que não são mais impressos (esgotados), enquanto compensamos de forma justa os detentores dos direitos. Como resultado, fomos capazes de trabalhar juntos para desenvolver um acordo que atendesse nossa visão compartilhada. Embora este acordo seja uma vitória para autores, editores e Google, os verdadeiros vencedores são os leitores que agora terão acesso a um mundo muito maior de livros.
Temos tido alguns debates sobre o acordo, e vários grupos mostraram suas opiniões, tanto a favor como contra. Eu gostaria de aproveitar essa oportunidade para dispersar alguns mitos sobre o acordo e partilhar de por que de eu ter orgulho deste projeto. Esse acordo tem a finalidade de tornar disponíveis milhões de livros que não são mais produzidos, mas que ainda estão sob direitos autorais, seja por meio de um taxa, ou grátis em função da veiculação de anúncios, com a maioria da renda decorrente sendo revertida para os detentores dos direitos, sejam eles autores ou editores.
Alguns alegam que este acordo é uma forma de licença compulsória, pois, como na maioria dos acordos em ações coletivas, a decisão se aplica a todos os membros que não optarem por uma determinada data.
A realidade é que os titulares de direitos podem a qualquer momento definir preços e direitos de acesso para suas obras ou retirá-los do Google Books definitivamente.
Para os livros cujos detentores de direitos não tenham se posicionado, padrões razoáveis de preços e políticas de acesso serão definidos. Isso permite o acesso à muitas obras órfãs, cujos proprietários ainda não foram encontrados e acumulam receitas para os detentores de direitos, dando-lhes um incentivo para tomar partido.
Outros questionam o impacto do acordo sobre a concorrência, ou têm afirmado que ele limitaria a escolha do consumidor no que se refere aos livros esgotados. Na realidade, nada nesse acordo impede qualquer companhia ou organização de se empenhar em esforços semelhantes. O acordo limita a escolha do consumidor por livros esgotados tanto quanto limitaria sua escolha por unicórnios. Hoje, se você quer
acessar um típico livro que não é mais publicado, você tem apenas uma escolha - voar para uma das poucas bibliotecas de ponta no país e esperar achá-lo entre as prateleiras.
Eu gostaria que existissem cem serviços com os quais eu pudesse facilmente olhar para tal livro; pouparia-me muito tempo, e pouparia ao Google uma tremenda quantidade de esforço. Mas apesar de um número de importantes esforços de digitalização hoje (o Google até mesmo ajudou a fundar outros, incluindo alguns da Library of Congress), nenhum esteve em uma escala comparável, simplesmente porque ninguém mais optou por investir os recursos necessários. Pelo menos um serviço como este terá que existir para que algum dia existam centenas deles.
Se o Google Books for bem sucedido, outros seguirão seu exemplo. E eles terão um caminho mais fácil: esse acordo cria um registro de direitos autorais que irá encorajar os detentores de direitos a aparecerem e irá prover uma forma conveniente para que outros projetos obtenham permissões. Apesar de novos projetos não obter em imediatamente os mesmos direitos a obras órfãs, o acordo será um sinal de
compromisso em caso de um processo similar, e servirá como um precedente para a legislação de obras órfãs, a qual o Google sempre apoiou e continuará apoiando.
Por fim, houve objeções aos aspectos específicos do produto Google Books e o seu serviço futuro como previsto no acordo, incluindo questões sobre a qualidade da informação bibliográfica, nossa escolha pelo sistema de classificação e detalhes a respeito da nossa política de privacidade. Todos esses questionamentos são válidos, e sendo uma empresa obcecada ao extremo pela qualidade dos nossos produtos, estamos trabalhando bastante para respondê-los - melhorando a informação bibliográfica e a categorização e ainda, detalhando nossa política de privacidade.
E se nós não nos sairmos bem com o nosso produto, outros conseguirão. Mas uma coisa certa é que impedir tal progresso é o mesmo que não se chegar a nenhum acordo.
Nos Anais de Seguros de 1880-1881, que eu achei no Google Books, Cornelius Walford registra a destruição de dezenas de bibliotecas e milhões de livros, na esperança que tal registro irá "deixar clara a necessidade de que algo precisa ser feito" para preservá-los. A famosa biblioteca de Alexandria foi destruída por incêndios três vezes em 48 A.C., 273 D.C 273 e 640 D.C., bem como a Library of Congress, onde um incêndio em 1851 destruiu dois terços da coleção.
Espero que tal destruição nunca aconteça de novo, mas a história sugere o contrário. E mais importante, mesmo que a nossa herança cultural permaneça intacta nas melhores bibliotecas do mundo, ela é efetivamente perdido se ninguém pode acessá-la facilmente. Muitas empresas, bibliotecas e organizações desempenharão um papel em salvar e tornar disponíveis as obras do século XX. Juntos, autores, editores e o Google estão dando apenas um passo em direção a esse objetivo, mas é um passo importante. Não vamos perder essa oportunidade. Sergey Brin é o co-fundador e o presidente de tecnologia do Google.
Uma biblioteca para sempre
por SERGEY BRIN
Tradução colaborativa de Sibele Fausto, Isadora Garrido, Moreno Barros, Fabíola
Pinudo, Jacqueline Cunha e Ana Patricia Guimarães.
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